Prepare-se para surtar
Histórias de investigação policial sem dúvida estão entre as minhas favoritas, sempre! Mas, fazia um bom tempo que eu não lia algo tão envolvente. Por que, no geral, autores que escrevem livros policiais, costumam deixar suas histórias repetitivas. Depois de um tempo, é bem tedioso acompanhar os livros do mesmo autor ou desse segmento.
Porém, Raphael Montes chegou para mostrar com quantas mortes se faz um bom livro. Acho que o ditado certo é com quantos paus se faz uma canoa, mas nunca fui boa com ditados mesmo… O autor já chegou causando impacto com o livro Suicidas! A trama acompanha nove jovens, da classe média/alta do Rio de Janeiro que foram encontrados mortos em um porão da casa de campo de um deles. Porém, não se sabe ao certo o motivo que levou os garotos a cometer o suicídio. Inclusive, nem o que aconteceu na casa depois disso.
Mas, um ano depois, a delegada responsável pelo caso reúne todas as mães dos jovens encontrados. Dessa forma, revela uma pista, um livro escrito por um dos jovens, o Alessandro (o principal narrador do livro). A delegada lê um capítulo por vez para as mães e, em seguida, abre para debate. Tentando descobrir algo que ajude na solução do mistério que marcou aquela noite. Portanto, durante a reunião e a leitura do livro, mistérios vão sendo solucionados e segredos vão sendo revelados.
Narrativa em formato de quebra-cabeça
O livro é narrado em forma de quebra cabeça, contendo três tipos de narrações diferentes, indo e voltando no tempo várias vezes. Funcionando mais ou menos assim (mas nem sempre nessa ordem):
1- Diário do Alessandro, que sonha em ser um grande escritor. O diário em questão é narrado em primeira pessoa e foi encontrado pela polícia, no quarto do garoto, durante a investigação. Geralmente, esses capítulos explicam como os jovens se conheceram. Ou alguma situação que desencadeou um problema entre eles, antes do dia do suicídio.
2- Livro escrito e narrado por Alessandro, descrevendo o que está acontecendo durante a ida para a casa e no porão em que os jovens vão se matar.
3- A gravação da conversa entre a delegada e as mães.
Esse tipo de narrativa é completamente diferente dos livros policiais que estou acostumada a ler. A história não deixa claro aonde vai parar. Cada uma das narrativas revela uma quantidade enorme de informações, intrigando cada vez mais. Tem personagens tão imprevisíveis, que faz você criar uma angustia constante e só soltar o livro quando terminá-lo, cumprindo o objetivo principal do autor.
Além da base de mistérios, o livro faz críticas sutis, porém fortes, a sociedade brasileira. Desde policiais corruptos até pais riquinhos que se preocupam com muita coisa, menos perceber o quanto seus filhos têm defeitos. Com um livro tão bem escrito e de final surpreendente, sem dúvidas, Raphael Montes é meu autor preferido do cenário literário brasileiro atual. Além de ser o preferido em livros de investigação. Porém, não arriscaria ficar sozinha na mesma sala que ele…
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