Azar Crônico

Ser demitida: criando minhas próprias oportunidades

8 de agosto de 2019
Pensei em falar sobre isso em um video e, talvez, eu até faça isso mais para frente. Talvez não tenha espaço suficiente para falar tudo aqui, mas sou melhor escrevendo, então preferi não arriscar. Por enquanto. 

Ser demitida, na cultura do nosso país, é a pior coisa que pode te acontecer. Você “suja” a sua carteira de trabalho e meio que te prejudica a conseguir novas oportunidades. É engraçado pensar nisso, agora, um ano depois, sabe? Principalmente, por que ao contrário do que o conhecimento popular, ser demitida foi a melhor coisa que me aconteceu. Até por que, eu passei a criar minhas próprias oportunidades e isso fez muito mais sentido do que esse papo de sujar a carteira. Mas, eu preciso voltar um pouco na história, para te explicar melhor sobre tudo. 

10 de agosto de 2018;

tutu. tutu. tutu.

Era como eu gostaria que meu coração estivesse batendo naquele momento. Mas, na verdade, ele estava mais para: tututututututututututututu. Quando alguém disse “Êrica, a chefe está te esperando na sala de reunião lá em cima”, eu já sabia. Subi cada degrau implorando a Deus para não ser demitida. Não que eu fosse uma bosta de funcionária. Mas, também não é como se eu fosse a pessoa mais motivada da empresa. Depois de todo o desenrolar da conversa, em que ela explicou sobre o fato da empresa mudar meu cargo para algo mais burocrático, ela finalmente deu a notícia. E eu chorei. Só conseguia pensar em todas as contas que chegariam mês a mês e cairiam sobre as costas da minha mãe, até que eu encontrasse outro lugar. Chorei por que tinha acabado de fazer um plano de saúde, depois de anos sem poder cuidar da minha saúde. Chorei.

Prometi que faria o burocrático. Mas, minha chefe, do outro lado da mesa, tentando me consolar, disse: “Êrica, você vai odiar mexer com notas fiscais. Você é criativa demais para isso”. Puta merda, será que ser “criativa demais” era um defeito? Enquanto eu chorava e ouvia toda a ladainha de que me ajudariam a procurar outro lugar para não me desamparar, eu pensava: “Mas, por que eu estou chorando? Faz tempo que eu não quero ficar aqui. Choro de desespero dia sim, dia não. Levantar da cama diariamente tem sido um tormento e o fim de semana é o meu momento mais feliz. Por que estou implorando para ficar? Definitivamente, se fazendo algo relacionado a minha profissão já está complicado, imagina fazendo o burocrático! Eu não quero ficar aqui”. E eu não queria realmente. Sendo assim, fico feliz de ser criativa demais para fazer o burocrático.

Recomeçar

Naquela noite, em meio ao desespero, recebi um convite para um processo seletivo de outra empresa na mesma área que a anterior. E pensei: “Definitivamente, eu não tenho por que chorar. Nada vai me faltar”. E não faltou. No mês seguinte eu viajei, afinal já estava com férias marcadas e passagem comprada para passar quase um mês fora. Conhecendo lugares e recarregando as baterias que o trabalho tinha me tomado. Por a cabeça no lugar, respirar fundo e acreditar em mim foi o primeiro passo para recomeçar. Mas, como ninguém é de ferro e se reerguer sozinha é muito mais dificil, eu tive a sorte de poder contar com minha mãe e amigos mais próximos para me lembrar de que tudo ficaria bem. E ficou.

Esses dias achei um e-mail que mandei para um amigo nessa época. E, apesar de ser exposição demais, queria compartilhar um trecho com vocês. Você deve estar se perguntando “mas, quem ainda conversa por e-mail nos tempos de hoje?”. Juro que é a forma que eu me sinto mais confortável e disposta a abrir meu coração. Portanto, os trechos a seguir parecem um dramalhão mexicano, mas é assim que a minha cabeça funciona. Eu sou medrosa e ansiosa demais! Já disse isso aqui antes. Coisas que parecem simples para as pessoas, normalmente viram assombrações na minha vida.

“Parte de mim ficou em pânico. Sério, morro de medo de deixar minha mãe na mão e você sabe disso. Sabe que eu tenho horror só de pensar em falhar. Mas, parte de mim não soube como ficar mais feliz. Eu já não estava bem lá há algum tempo e louca para sair correndo a qualquer minuto. E comecei a pensar que meu anjo da guarda está me protegendo de algo pior e abrindo espaço para eu fazer coisas que realmente amo, sabe? Tipo, escrever no blog e correr atrás de ganhar dinheiro com isso. Abrir a minha própria empresa e coisas assim. E essa outra parte que ficou feliz, também entrou em pânico. De falhar. Eu sei, “de novo, Êrica?”. E se eu não for boa o bastante para viver de blog ou ter minha própria empresa? E se eu só ouvir “não” de todos os clientes que eu buscar?”

E a resposta foi:

“NÃO TENHA MEDO DE FALHAR! Eu sei que é muito mais fácil falar do que fazer. Eu mesmo tenho muitas dificuldades com isso na hora que preciso. Mas é algo que temos que fazer. Temos que tentar. Temos que correr atrás. Quando você faz algo dando tudo de si, pode até não sair do jeito que você esperava, mas isso te traz notoriedade. Te cria novos caminhos, nova oportunidades, novas relações, novos amigos e etc. Com isso, você cria novas oportunidades de vida. E tenho certeza que você encontrará a sua.”

Essa foi apenas uma das palavras de incentivo que eu recebi na época. Sendo assim, a base de empurrões de várias pessoas, eu comecei. Empreender. Essa palavrinha que carrega tanto peso que mais parece um bicho de sete cabeças. O bicho que me assustava, se tornou meu amigo mais próximo e transformou a minha vida de muitas maneiras. Ser demitida era exatamente o ponta pé que eu precisava. Eu tinha várias vontades, mas pouca coragem. Já disse, eu sou medrosa. Aquele chute para fora da minha zona de conforto me trouxe coragem de onde eu nem sabia que existia. E, por mais que eu ainda tenha muito medo do futuro, hoje não me falta força de vontade para fazer as coisas darem certo. Por que eu tenho mais medo ainda, de voltar a viver como eu estava vivendo.

O que eu quero dizer

Compartilhei essa história toda sobre ser demitida e começar a acreditar mais em mim por dois motivos. 1- Talvez você seja a pessoa que está exatamente como eu estava. Com um monte de coisas boas e incríveis te esperando fora da sua zona de conforto, mas com muito medo de arriscar. Se esse for o caso, eu te digo que: vale muito mais fazer algo que você gosta de verdade, mesmo que, por exemplo, isso não venha acompanhado de um salário estável. Do que fazer algo que te deixa péssimo todos os dias, mas garante o salário todo mês. E, mesmo que o seu caso não seja de trabalho, vale arriscar se for o que você realmente quer e que não vá prejudicar ninguém, ok? 

E 2- Talvez você seja próximo de alguma pessoa que, como eu, está na zona de conforto ou saindo dela. Cabe a você ser um porto seguro, um ponto de apoio, um incentivador. Mostre que você está ali para apoiar e que tudo vai ficar bem. Divulgue o trabalho ou projeto dessa pessoa, dê o suporte emocional que ela precisa. Veja bem, estamos falando do emocional mesmo e não do financeiro. Você não precisa ter grana para apoiar o projeto de ninguém. E, se por algum motivo você não acredita que aquela pessoa é capaz, apenas guarde esse pensamento para você. Ninguém precisa de alguém para ficar derrubando a gente com comentários negativos, ok?

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