O Pasquim

Oficina Madmod: a prova de que não existe idade certa para criar

26 de agosto de 2018

Há quem diga que os jovens são o futuro do país. Mas, quando se deparam com jovens criando e fazendo acontecer, costumam desacreditar na qualidade do projeto. No entanto, existem milhares de jovens brilhando e criando projetos e produtos incríveis. Dentre esses jovens talentos, eu poderia citar, sem dúvida alguma, o nome de dois deles: Lucas Tezzari e Cáio Cunha. Quem são eles? Os arquitetos e urbanistas responsáveis pela criação da Oficina Madmod. Para quem ainda não teve o prazer de conhecer de perto o talento desses dois, deixe-me ter a honra de apresentá-los. A Oficina Madmod está há dois anos atuando no mercado da fabricação digital em Porto Velho (RO) e foi criada quando o Cáio e o Lucas ainda estavam cursando a faculdade.

De acordo com eles, “buscavam um mercado ainda não explorado na região com a perspectiva de auxiliar os profissionais da área de construção civil, arquitetura, decoração e design, possibilitando a melhoria dos projetos executados, com um menor custo e sem perder a qualidade dos materiais produzidos pelas grandes indústrias”. E, como todo processo de criação, precisaram de muita determinação e força de vontade para fazer acontecer. Apesar de ainda funcionar como home office, a Oficina Madmod já conta com um portfólio extenso. Dentre os produtos que oferecem, estão: cardápios, cadeiras, bancos, mesas, painéis, placas, quadros, porta-guardanapos, chaveiros, maquetes, pentes, vasos para plantas, caixas, e muitos outros. Definitivamente, uma das lições mais bacanas que a dupla criadora da Oficina Madmod pode nos ensinar é: não existe idade certa para começar a criar. Ou seja, aproveite a história deles para se inspirar e começar a acreditar em seus próprios projetos.

Para isso, confira a entrevista especial com Lucas Tezzari e Cáio Cunha!

Como nasceu a ideia de criar uma empresa como a Madmod? 

A Oficina nasceu de uma busca, primeiramente minha, Lucas Tezzari, que, frequentemente visito a cidade de São Paulo pela ligação familiar e passei a desvendar lá, as possibilidades arquitetônicas em tendência mundial. Com o mercado nacional fortemente saturado, depois das inúmeras pesquisas e conversas com profissionais do ramo, ficou claro que a área a ser seguida seria a que unisse a tecnologia e as máquinas ao processo criativo e construtivos de volumes. Faltava ainda definir o conceito, o formato, o método e os processos a serem seguidos. Precisava também de mais força, equipe, um sócio e, depois de bastante análise no meu meio acadêmico, percebi que o Cáio Cunha, hoje meu sócio e co-proprietário da Oficina Madmod, seria peça chave no processo. Nada teria chegado aonde já chegou se não fosse a união de forças, referências e estudos entre nós. 

Qual é o principal objetivo de vocês com a Oficina Madmod?

Nosso principal objetivo sempre foi fazer a diferença no mercado do design de Rondônia. Trazer novas propostas e novas possibilidades para os projetos regionais. Queríamos provar que poderíamos fazer peças de qualidade, produtos arrojados e com design apurado, mesmo distante das grandes metrópoles do mundo.

Enfrentaram algum tipo de preconceito por serem muito novos a frente de uma empresa?

Enfrentamos todos os dias, diversos tipos de preconceito. Um fato que nos choca bastante até hoje, quando recordamos, foi uma ríspida recepção num lançamento de mobiliário de uma grande indústria nacional. Os responsáveis, nos indicaram como possíveis plagiadores, como pessoas que queriam roubar os traços de volumes já executados. Foi, com certeza, a experiência mais triste que vivemos nesse processo. Nós, de forma alguma queremos nos apropriar de desenhos e projetos já executados por grandes nomes do design nacional e/ou mundial e sim usá-los como referência, com todo o respeito que temos pelos mestres que são.

Em relação a pouca idade, acreditamos que enfrentamos mais o espanto, as pessoas se impressionam com a nossa coragem e a nossa vontade de fazer acontecer. No começo de tudo, ouvimos muita coisas como: “Quem eles pensam que são?”; e é muito gratificante ver algumas dessas pessoas, hoje, nos encontrarem num evento da área e nos parabenizar, e se desculparem, e dizem: “Eu tive uma impressão errada”. Essas experiências são minimas e necessárias para o crescimento. Nos fizeram repensar e ter ainda mais certeza sobre o que buscávamos e buscamos até hoje. O resultado é muito mais positivo que negativo.

Qual a maior dificuldade que tiveram no inicio da Madmod?

Com certeza foi o investimento pois não são processos simples e nem materiais e máquinas acessíveis. Precisamos, inicialmente ter a certeza que a empresa seria algo viável financeiramente e se daria para a transformarmos em modelo de negócio e não ficar apenas como um hobbie. Nós não tínhamos a estrutura física adequada, não tínhamos dinheiro para investir, não sabíamos trabalhar com os softwares, não conhecíamos detalhes sobre as máquinas, não tínhamos pessoas que nos ensinassem. A indústria no Brasil, e acredito que no mundo, não abre para novas pessoas conhecerem a aprenderem os processos. Foi uma luta cada dia e ainda é! Faz quase três anos que fazemos acontecer algo teoricamente inviável, mas têm dado mais certo do que esperávamos.

De todos os trabalhos que fizeram até aqui, qual marcou mais a trajetória de vocês?

De todos os projetos, o que nos deu mais visibilidade foi o da Casa Festim. Mas, não saiu do papel por falta de patrocínio. Foi um projeto muito inspirador e que nos deu muita visibilidade nacional, por ser uma casa com design arrojado e de baixo custo, seguindo a linha de raciocínio high-low. Esperamos executa-la em breve! Dos projetos executados, o de maior escala foi o Módulo III. Que se baseia em uma estrutura intertravada e montada apenas por encaixes entre a madeira compensada. Sem a utilização de parafusos ou qualquer outro fixador rígido. Ela foi exposta no Porto Velho Shopping e, em seguida, na primeira Mostra Morar Mais Rondônia, que ocorreu em Porto Velho, em 2016.

Trabalhar entre amigos: sorte ou problema? Dessa maneira, como vocês dividem as tarefas?

Acreditamos ser uma dádiva! Entendemos que nem sempre flui. Mas, eu e o Cáio somos muito tranquilos. Nos entendemos muito e aceitamos todas a dificuldades da vida. Existem problemas em todas as relações, portanto o ponto chave e saber lidar com elas. A divisão das tarefas também foram acontecendo naturalmente. O Cáio é muito mais ligado em softwares e produção digital. Essa parte praticamente é toda guiada por ele, que hoje tem a ajuda da Flora Villar, estudante de arquitetura e estagiária da Oficina. Eu, Lucas, fico com o atendimento ao cliente, o financeiro e a parte burocrática de pagamentos de impostos e emissão de notas fiscais. Sobre o conceito, trabalhamos em conjunto as possibilidades de um volume, até chegar num modelo final.

Por vezes alguém chega com um volume pronto, produzido num final de semana ou numa noite de insônia. Mas, não é a forma tradicional em que costumamos trabalhar. Além disso, frete e instalação hoje são serviços terceirizados!

Como funciona o processo de criação dos novos produtos?

É totalmente natural, fluído. Alguém chega com uma ideia, para resolver algum problema, ou para alimentar alguma necessidade de expressão. Normalmente, definimos o volume em conjunto. Mas, nem sempre é assim. Existem muitos projetos não divulgados, não publicados. No entanto, estamos em constante produção e prototipação.

Quem inspira o trabalho de vocês?

Temos referências no mundo todo, em cada área, absorvemos inspirações. Existem as inspirações arquitetônicas e de design, entre elas Marko Brajovic, Guto Requena, Rem Koolhas, Zaha Hadid, Herzog e De Meuron, Medio Design, Isay Weinfeld, Ruy Othake, Baraúna, Sérgio Rodrigues, Lattoog, entre inúmeros outros grandes mestres. Mas, é importante expressarmos que tudo é referência. Sejam elas boas ou ruins. Depende de nós filtrá-las. Um prato servido num restaurante é inspiração, um carro também. Ou uma árvore, um peixe, uma cor, uma paisagem. Estamos em constante estudo, em todos os lugares, a todo momento.

Qual o próximo passo que desejam dar com a empresa?

Hoje estamos num período de novos investimentos, construções de novas máquinas e possibilidades de investidores e consultores conosco. Provavelmente, no próximo ano expandiremos a Oficina Madmod. Ou para outra cidade ou para outros formatos, nada ainda certo. O certo é que estamos em constante crescimento.

Sabemos que vocês têm dado algumas palestras sobre a trajetória de vocês. Em casos como esse, em que podem conversar com outros jovens, qual é o principal conselho de vocês?

O nosso conselho é sempre que os novos profissionais absorvam o mercado local inicialmente para terem a resposta sobre a viabilidade. Acreditamos que a chave do sucesso é a coragem, o foco todos os dias e a não desistência. Não parar de acreditar!

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1 Comment

  • Reply Retrospectiva: os 12 posts que marcaram nosso 2018 | Ré Menor 5 de dezembro de 2018 at 23:51

    […] Oficina Madmod: a prova de que não existe idade certa para criar; […]

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