O Pasquim

André Dahmer: um bate-papo sobre tecnologia #CPBR12

17 de fevereiro de 2019

André Dahmer é um quadrinista e desenhista, do Rio de Janeiro. Inclusive, você deve conhecê-lo das tirinhas publicadas na Folha de S. Paulo ou na Revista Piauí. Além disso, produz a série Malvados, que é frequentemente postada nas redes sociais do autor. Consiste, principalmente, em personagens de traços simples e com críticas irônicas e precisas. Ele participou de um painel no estande do SESC da Campus Party Brasil com o tema “Experiências literárias e tecnológicas”. A mediadora foi a Ju Wallauer, do podcast Mamilos. Junto com ele, André Vallias, poeta, e Samira Almeida, editora de livros digitais, contribuíram para o bate-papo com opiniões fundamentadas e falas esclarecedoras.

Opiniões sinceras sobre a evolução da internet

Para quem não sabe, André Dahmer também é autor dos Quadrinhos dos anos 10, mas começou fazendo poesia. Atualmente, costuma ir em muitos eventos literários, porque é um nome forte atual dos quadrinhos. Ele usa muito as redes sociais para divulgar os trabalhos, já que nem todo mundo assina jornal e revista. Apesar de ser bem ativo na internet, não lê comentários no intuito de prejudicar o desenvolvimento do seu trabalho e nem ficar paranoico. Tivemos a oportunidade de conversar com o cartunista após o painel para prolongar um pouco o bate-papo sobre como a tecnologia virtual acabou tendo pontos muito mais negativos do que era esperado quando começou a surgir a partir dos anos 90. Inclusive, ele relatou que, quando a internet apareceu e ficou mais acessível, esperava que fosse um instrumento para unir as pessoas e compartilhar mais conhecimento. Um pensamento com viés iluminista e esperançoso. Mas hoje em dia, não é bem assim.  

“Esse advento que chamamos de Inclusão Digital, em 2005, que as pessoas até brincavam ‘maldita inclusão digital’, que foi a entrada massificada de pessoas que não estavam ali para gerar conteúdo. Até essa época, tinham mais leitores do que geradores de conteúdo. Como eu falei na palestra, nessa época os blogueiros eram considerados pessoas especiais. Inteligente demais”, relatou o cartunista. Mas, onde a sociedade de perdeu? “Com o tempo e com toda essa massificação, eu comecei a perceber o início de tanto ruído, que é a principal característica da internet hoje. Meio parecido com uma torre de Babel”, explicou ele. 

Como você define uma verdade?

Realmente, não se pode negar que hoje em dia, com a chance de qualquer pessoa ser um produtor de conteúdo, a coisa toda fugiu do controle. “Eu acho que tudo gera conteúdo. Mas, a internet veio para mostrar, que as pessoas são muito preconceituosas e com pouco preparo para falar sobre a maioria dos assuntos. E mesmo assim querem discutir sobre os assuntos. Então, o que se tem na internet hoje, são milhões de especialistas que não sabem sobre nada”, expôs André.  O autor também relatou que antigamente, as pessoas tinham os professores como heróis. Mas, hoje em dia, não se dá o crédito necessário. Fora que a imprensa é outra que sofre com esse problema. Afinal, as pessoas passaram a desacreditar no que é dito pelos jornalistas. Sendo que esses trabalham para apurar os fatos e publicar somente verdades ou o mais próximo da realidade. 

Em tempos de fato ou fake, precisamos tomar um cuidado enorme antes de repassar uma informação. Principalmente por que um simples comentário negativo pode estragar uma reputação que demorou a ser construída. Precisamos ser mais empáticos uns com os outros, ao invés de procurarmos atacar o tempo inteiro no intuito de magoar alguém por algum ressentimento que tenhamos. “A Eliane Brum escreveu um texto maravilhoso no El País, que chama “auto verdade”. Hoje em dia você recebe um monte de informações e você escolhe de acordo com seu temperamento. De acordo com o que você sente, com o seu ressentimento. Você fala “isso aqui agora é verdade”. É a auto verdade, sem nenhuma regulação”, finalizou o cartunista. 

 

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