Para quem não conhece esse(s) cara(s), você está no texto certo. David Bowie teve vários alter-egos em vida: alienígena, andrógino, inglês magro e tradicional… Tem um Bowie para cada gosto. O meu álbum favorito é o Diamond Dogs, um dos primeiros. Várias músicas fazem referência ao livro “1984”, do George Orwell, que é o meu preferido da vida. Inclusive há uma com o nome do livro. E é um álbum que choca visualmente: cores bem fortes e um cara magro, que é metade cachorro, com um cabelo vermelho curupira. Além de cores e criaturas que podem ser consideradas estranhas. A intenção era realmente essa: impactar. Ele não era o típico inglês conservador. Aliás, musicalmente, os ingleses não são tão quadradinhos. Só politicamente.
Influências de todos os lados
Bowie ouvia de tudo, menos country. E claro que isso reflete na música. Tem faixas com claras influências do soul, como “Fame”, que fez em parceria com John Lennon. Outras lembram os movimentos musicais da época, como ”Let’s Dance”, que foi lançada quando as discotecas estavam em alta. Tem duetos loucos e famosos, como “Dancing in the street”, com Mick Jagger. Ah, também tem uma fofoca de que eles se pegaram, mas nunca ninguém confirmou ou desmentiu. E claro, tem a histórica “Under Pressure” feito junto com Queen.
Ele não era só multifacetado como cantor: pintava e esculpia. Passou um tempo morando em Berlim, na Alemanha, para se desintoxicar das drogas, se concentrar no trabalho e se dedicar ao filho. Por isso, ele mergulhou nas artes: lia muito, esculpia, pintava e componha que nem um doido ou alguém desesperado por manter a cabeça ocupada. Isso o ajudou bastante. Acredito que os artistas não podem ser uma coisa só. Senão, o que tem para mostrar acaba rápido, fica repetitivo e sem nenhuma relevância.
É ou não é?
Ele também foi inovador por outros motivos: foi o primeiro cantor inglês a se declarar LGBT nos anos 70. O Reino Unido só descriminalizou a homossexualidade em meados dos anos 60. Então, quando Bowie saiu do armário, ninguém havia feito. Nem o Elton John, por incrível que pareça. Muitos desconfiam da bissexualidade, falando que era meramente por sede de fama. Mas sinceramente, um cara que quer fama se envolveria com pessoas que não são conhecidas e assumiria isso abertamente, inclusive adotando características próprias das drag queen, por exemplo, ao estilo? Acho que não. Principalmente naquela época. Hoje, talvez isso acontecesse por causa do famoso pink money, termo usado para artistas que se dizem aliados da comunidade LGBT, mas só querem realmente o lucro.
Um pouco sobre os álbuns
Claro que isso tudo já foi discutido amplamente sobre Bowie. Por isso, vou indicar algumas faixas “escondidas” para ir além de “Heroes”, “Life on Mars?” e “Space Oddity”. No álbum “The Next Day”, há o lado extra que contém uma música chamada “Atomica”. Esse é um daqueles casos de músicas que quase não foram para o álbum, mas algo mudou e entrou. Ainda bem! Em “Diamond Dogs”, há ”Big Brother”, outra referência à “1984”. Também indico “Strangers When We Meet”, do “The Buddha of Suburbia”, que é perfeita para jogar aquela indireta. “Sound & Vision” é outra faixa com álbum de mesmo nome. Inclusive, teve turnê aqui no Brasil no início dos anos 2000.
Em “Blackstar”, ele encerrou a obra (e a vida, infelizmente) de forma magistral. A faixa que leva o nome do álbum é longa e é quase uma viagem sinestésica. “Lazarus” é uma faixa impactante com música e clipes fortes. O nome não é por acaso: na Bíblia, Lázaro, que era amigo de Jesus, morreu. Jesus chorou e ressuscitou o amigo falando que ele andasse. Obviamente o consideraram louco. Mas todos ficaram surpresos ao ver Lázaro sair do túmulo. Uma das minhas favoritas é ”Dollar Days”, mesmo que não tenha sido tão comentada quanto “Lazarus”, que foi extremamente impactante devido à morte dele após dois dias do lançamento, em 2016.
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