Patrinando

Filipe Catto: Vênus contemporânea

13 de agosto de 2019

Sabe aquele artista completamente singular e que parece simultaneamente uma mistura bem-sucedida de outros? E que te impacta à primeira ouvida? Um exemplo extremamente claro disso é Filipe Catto, cantor gaúcho que com certeza merece ser mais (re)conhecido.

Ele me lembra muito os maravilhosos Ney Matogrosso e Marina Lima. A voz límpida e cristalina prende o ouvinte. As letras são fortes e verdadeiras. A persona ultrapassa várias coisas: gêneros, estilos musicais, moda. É como se fosse um furacão brilhante, que arrasa não só a superfície, mas como arranca tudo do chão. Na turnê O nascimento de Vênus, Catto brilha tal qual a deusa romana do amor, que foi representada na pintura homônima de Botticelli. Aliás, o amor é tema recorrente nas canções de Catto: paixões avassaladoras, fortes desilusões e vinganças, tudo com bastante densidade.

Eu não quero mais” é perfeita para ilustrar isso. O conteúdo é certamente impactante: Catto aparece caracterizado como o Sagrado Coração de Jesus e cercado de pessoas que, infelizmente, sem dúvidas seriam escorraçadas de um ambiente religioso conservador por causa da aparência. Os tons do clipe são caraterísticos do estilo de pintura natureza-morta, que retrata objetos inanimados, geralmente mais associados com frutas, que inclusive, aparecem bastante no clipe. Além disso, todos parecem unidos por pela raiva, devassidão e introspecção como se estivessem em um bacanal gótico. 

Filipe Catto é tremendamente original. Sinceramente quando vi o show me faltaram adjetivos para descrever precisamente o espetáculo. A sensação que tive foi de um transe hipnótico gerado pelo canto de uma sereia. Talvez Catto seja realmente uma criatura mitológica encantadora e imprevisível. Ou é só uma pessoa que sabe descrever emoções humanas de forma mais bela e concisa do que o restante de nós, reles mortais.

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