Minha música favorita do Caetano Veloso sempre foi “Alegria, Alegria”. Sim, é aquela do ”Caminhando contra o vento/ sem lenço e sem documento”. Tem um trecho da música que diz ”O sol nas bancas de revista/ me enche de alegria e preguiça/ quem lê tanta notícia…”. Quando estava no ensino médio, um professor de história explicou que era uma crítica ao excesso de informação veiculado em 1968. Na época, os jornais e revistas impressos, rádio e a televisão eram os veículos de comunicação dominantes.
Estamos em 2019, temos internet. Com ela, várias coisas surgiram: portais de notícias, blogs (claro, se não você nem estaria lendo este texto), YouTube e todo tipo de plataforma digital. É extremamente irônico escrever isso aqui, mas hoje estou “caetaneando”. “Quem lê tanta notícia”? Alguém consome tanto conteúdo assim? Será que nos faz bem? Não sei vocês, mas essa enxurrada de informações me dá certa preguiça.
Pare e pense
Obviamente não estou falando para largar tudo e deixar de ler as notícias para sempre. Sou criadora de conteúdo e gosto de produzir, principalmente escrever, embora não necessariamente conteúdos jornalísticos. Além de que a Blanc e quem costuma me contratar pra freelas me mataria. Com muita razão, inclusive. Entretanto, avalie um pouco o que anda consumindo, como isso ocupa o seu dia e como interage e reage diante disso tudo. Caso seja jornalístico, é feito com a devida responsabilidade? Por exemplo, nesta semana, uma frase descontextualizada de uma entrevista do Milton Nascimento sobre a música mainstream brasileira causou uma balbúrdia nas redes sociais. Por isso, opiniões raivosas, textos magoados, gente com ego ferido tomaram conta do Twitter e outros sites. Lendo e xeretando alguns chiliques, até lembrei da frase ácida da Professora Minerva McGonagall em Harry Potter: “Babuínos bobocas balbuciando em bando”.
A grande ironia é que o conteúdo da entrevista era disponível somente para assinantes. Duvido de verdade que todas aquelas pessoas assinem o portal da Folha de S. Paulo. Devido ao caos virtual, a página oficial do cantor teve que dar uma resposta no Facebook para esclarecer o assunto e acalmar os ânimos. Acredito que muita gente não lê tanta notícia, como canta Caetano. Só vociferam o que querem, saem vomitando palavras previamente mastigadas, consomem o que acalenta sua visão de mundo soberba e repassam sem pestanejar qualquer coisa, mesmo que seja falso.
”Eu vou…”
De vez em quando imagino que estamos em uma Torre de Babel global. Entretanto, no lugar da torre incrivelmente alta que visava alcançar o céu, virtual e offline se misturam, várias vozes ecoam e gritam para ganhar público, likes e compartilhamentos. Tudo é excessivo, escandaloso e extremamente exposto. Reflexões são postas de lados, já que não geram tantos views e compartilhamentos como o esperado. Dar uma pausa, pensar e refletir, infelizmente, parece estar fora de moda. Ou de uso. Porém, ainda acredito que depois de uma tempestade com direito a todos tipos de mudanças, vem a tão sonhada bonança. Ainda podemos recuperar o controle. Devemos começar a fazer agora. Consumir com responsabilidade e ponderar sobre os fatos é um ato de autocuidado extremamente necessário atualmente. Precisamos urgentemente desacelerar. Que tal caminhar contra o vento, tomar um suco de laranja e praticar o ócio desconectada? “Por que não?”
No Comments