Azar Crônico

Expectativas: um agradecimento a Elisa

26 de outubro de 2017

Eu sempre quis ir para Curitiba. Idealizei por horas os meus passeios, imaginei o Jardim Botânico como algo de tirar o fôlego e planejei cada foto que ia tirar por lá. Foram anos pensando nessa viagem. Os mesmos anos em que planejei participar do Intercom e concorrer na Exposição de Pesquisa Experimental em Comunicação (Expocom). Mas, nesse caso, nunca acreditava que meus trabalhos da faculdade estavam tão bons ao ponto de concorrer a etapa regional. 

No inicio desse ano, quando vi a proporção que meu trabalho de conclusão de curso tinha tomado, e depois de muito incentivo de alguns professores, decidi me inscrever no Expocom e embarquei para o Intercom Norte, realizado em maio, em Manaus – AM. A grande questão aqui é: eu não esperava ganhar, mas o nacional era em Curitiba e eu queria MUITO ter uma desculpa para ir até lá. 

Foi uma sensação surreal ganhar. Não sabia se ligava para os professores, se chorava, se gritava, se abraçava meu melhor amigo. Eu estava plena. Resplandecendo e pulando por todo o lado. Só não foi a melhor noite do ano, por que eu colei grau em janeiro. Minha cabeça já estava a mil por hora, puxando todos os meus planejamentos de Curitiba. 

Faça o que for necessário para ser feliz. Mas não se esqueça que a felicidade é um sentimento simples, você pode encontrá-la e deixá-la ir embora por não perceber sua simplicidade.

Martha Medeiros

Quando setembro chegou, lá fui eu para Curitiba. Era a viagem dos sonhos e por estar riscando vários sonhos da minha lista, eu já não tinha mais direito de reclamar de nada. Mas, naquela mesma semana em que várias coisas maravilhosas aconteceram, várias que eu queria MUITO não tiveram o mesmo resultado. E é aí que eu percebi a minha falta de tato (e de vários amigos) para lidar com as nossas expectativas. 

Curitiba é maravilhosa mesmo, mas acho que eu idealizei demais, sabe? Descobri que o Jardim Botânico nem tira o fôlego. O que tira mesmo é o Parque Barigui, o Tanguá e a Ópera de Arame. Naquela semana eu recebi a noticia de que não tinha sido selecionada para um projeto que eu desejei com todo o meu coração. Chorei igual a um bebê. Queria estar em casa para correr para o colo da minha mãe, o quanto antes. Dias depois, soube que também não tinha sido premiada no Expocom e, mais uma vez, eu só queria estar em casa. 

Eu sabia que a probabilidade de eu não passar na seleção do projeto, que tinha milhares de pessoas do mundo todo concorrendo, era enorme. Assim como eu sabia que a probabilidade de eu não ganhar o prêmio era muito maior do que o contrario. Considerando que eu venho do Norte, de um estado que tem apenas 35 anos de criação, que tem muita coisa para melhorar. Eu estava concorrendo com os grandes do Sul, Sudeste e Nordeste. Mas como a cabeça explica isso para um coração que só sabe desejar, desejar e desejar? 

… só que talvez eu tenha ido com expectativa demais, e todos sabem que excesso de expectativa é o caminho mais curto para a frustração. 

Martha Medeiros

Por mais que tentasse ficar bem, passei a semana angustiada por não ter passado no projeto. Não ganhar o prêmio terminou de azedar minha semana. Parecia que tinha levado um soco no estômago e o corpo inteiro sofria. Porém, para tornar as coisas mais contraditórias, eu tinha desenvolvido uma amizade com a menina que ganhou. E eu estava muito feliz por ter sido ela. Eu estava feliz por que acreditava que o trabalho dela mereceu o prêmio. Só que, dos 6 prêmios que eu e meus amigos concorríamos, só um voltou conosco. Estávamos todos para baixo e eu me deixei afundar na tristeza que tentei esconder a semana toda. 

Como toda boa pessoa que se cobra e é ansiosa, comecei a me culpar. Comecei a pensar que todos os outros planos da minha vida não dariam certo. Por que, se em uma semana tantos planos tinham dado errado, imagina o resto da minha vida?! Pensei que nunca ia conseguir ir embora da minha cidade, como eu quero. Pensei que nunca mais na vida ia conseguir concorrer a um prêmio de jornalismo.  

Aprendendo a lidar com as expectativas

No dia seguinte, conversando com a menina que ganhou, ela me disse “Achei que ia perder para você”. Aquela frase foi como um tapa na minha cara. Aquela frase me salvou de qualquer tristeza que ainda tinha sobrado. Elisa, que até agora foi chamada de “a menina que ganhou”, não faz ideia do quanto aquela frase foi muito melhor do que ganhar o prêmio. Elisa, mesmo sem saber, me fez parar um segundo e numerar todas as coisas boas que tinham acontecido na semana. Pensar em todos os planos que tinham dado certo. Pensar em todos os sonhos realizados. Pensar o quanto eu estava sendo boba. Que não é por que uma coisa ou outra não atenda as expectativas, que deixa de ser algo bom ou que todo o resto vai dar errado.

Para mim, que nem achava que ia ganhar o prêmio regional e que sabia que talvez não fosse grande coisa perto dos concorrentes, aquela frase foi tudo. Me mostrou que talvez eu não estivesse tão inferior aos outros, quanto eu acreditava. Me mostrou que eu tinha chances de ter ganho. Que eu chamei atenção de algumas pessoas com o meu projeto. Elisa fez a viagem superar as expectativas. Elisa me ensinou a lidar com aquilo tudo. Obrigada, Elisa. 

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